Uma Avenida Emblemática

Uma Avenida Emblemática

Atentem aos pormenores destas fotos da Avenida 24 de Julho, em Lourenço Marques, obtidas junto ao cruzamento com a Rua do General Botha, tendo na esquina visível da esquerda a Villa Margherita!

Avenida 24 de Julho, cruzamento com a Rua do General Botha, Lourenço Marques, 1968
Avenida 24 de Julho, cruzamento com a Rua do General Botha, Lourenço Marques, 1968

Na primeira imagem podemos ver um autocarro (machimbombo) dos SMV, no mesmo cruzamento das outras duas fotos.

Ressalta à vista:

a) a perfeita geometria do cruzamento;

b) a largura razoável da avenida para o tempo;

c) a largura generosa do separador central;

d) o perfeito alinhamento das árvores no separador central;

e) as caixas para as árvores, em terra, largas o suficiente para as raízes futuras se expandirem na terra e não danificarem os passeios;

f) a planura da superfície adequada ao andamento a pé dos passeios;

g) o marco de correio, à inglesa, no melhor ponto possível;

h) o estado cuidado dos edifícios e das paredes;

i) os postes de iluminação modernos (anos 70);

j) a sensação geral de espaço, desimpedimento e limpeza.

A objectiva na foto a seguir faz uma tomada da avenida exactamente à frente do marco de correio da primeira e segunda fotos, no mesmo cruzamento. A sensação que me transmite, a despeito da racionalidade que expressei atrás nas alíneas, não é passível de ser expressa em palavras. Não as encontro!

Avenida 24 de Julho, cruzamento com a Rua do General Botha, Lourenço Marques, 1968

Porque recuo mentalmente no tempo à velocidade da luz quando observo a imagem, e desce sobre mim uma paz inexplicável … como se todos os parafusos do meu ser se apertassem, a carcaça se realinhasse e eu assim me reencontrasse, por momentos fugazes, comigo mesmo, em perfeita conjugação com o eixo da Terra!

As 3 primeiras fotos são de 1968, as que se seguem são da primeira metade dos anos 70!

São algumas marcas ineludíveis de urbanismo contemporâneo, segundo os cânones. O tipo de preocupações urbanísticas que, em Portugal, só se começa a vislumbrar nos anos 90, por exemplo em Oeiras e em zonas para o interior da “linha” (de Cascais)!

Avenida 24 de Julho em Lourenço Marques, perto do cruzamento com a Avenida Princesa Patrícia

Esta era uma avenida típica de Lourenço Marques, uma cidade pensada e planeada desde o princípio, logo que na primeira década do século XX a autoridade colonial decidiu rasgar avenidas para além da vila em redor do forte original.

Uma vista aérea da Avenida 24 de Julho, em Lourenço Marques, com o Cine-Teatro Manuel Rodrigues sensivelmente a meio, do lado direito da avenida

Em finais de 70, na África do Sul, não vislumbrei em Joanesburgo, Durban, Pretória ou Cidade do Cabo, de forma tão patente, este equilíbrio, aprumo, cuidado urbanístico e sensação de bem estar, como em Lourenço Marques!

O início a ocidente da Avenida 24 de Julho, em Lourenço Marques, na rotunda do matadouro

Embora em qualquer daquelas cidades o movimento, humano e de tráfego, o consumo e o desenvolvimento capitalista, digamos assim, fossem muito mais intensos!

O tráfego intenso na Avenida 24 de Julho, em Lourenço Marques.

Quando em 1976 deixei Lourenço Marques para a capital do “Império”, com as suas ruas tortuosas, passeios imundos de calçada em ondas, edifícios velhos por pintar, paredes manchadas de tinta em pleno pós PREC, a sociedade cinzenta, retrógada, desorganizada e em descoberta do que era viver sem os polícias dos costumes, a sensação foi de ter descido à subcave do inferno!

Fontes das imagens: Delagoa Bay.


Comentários

3 comentários a “Uma Avenida Emblemática”

  1. Avatar de António Amorim Lopes
    António Amorim Lopes

    HÁ QUEM NÃO QUEIRA DAR O BRAÇO A TORCER E SE CONTENTE EM DIZER MAL DE UMA GRANDE TERRA CHAMADA MOÇAMBIQUE E NÃO QUEIRA RECONHECER O QUE OS PORTUGUESES ALI FIZERAM DE BOM DURANTE SÉCULOS. ALGUNS “RATOS” ATÉ SE DÃO AO LUXO DE QUERER DEITAR ABAIXO A VERDADE SEM TEREM O MÍNIMO CONHECIMENTO DAQUELA GRANDE TERRA:..

  2. Avatar de Maria BernardetteC.F. Serra
    Maria BernardetteC.F. Serra

    Adorei e recuei no tempo…

  3. Avatar de Jose Fernando Rodrigues Vieira
    Jose Fernando Rodrigues Vieira

    Cidade sem igual. Delineada e construida com horizontes de futuro. Nenhuma outra se lhe compara minimamnte. Era viva, pulsante, onde era uma alegria viver-se.

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