Gerard Pott

Amesterdão, 1858 – Lourenço Marques, 1927.

Gerard Pott foi um cidadão holandês nascido em Amesterdão, Holanda, a 21 de Dezembro de 1858. Viveu grande parte da sua vida em Moçambique, tendo-se radicado em Lourenço Marques na década 80 do Século XIX.

Pott, pode afirmar-se, conduziu uma vida controversa nos seus papéis de comerciante, principalmente de e para a República Boer do Transvaal e de, simultaneamente, cônsul honorário do Reino da Holanda em Lourenço Marques a partir de 1887, com a idade de 29 anos, e de cônsul-geral do Transvaal e do Estado Livre de Orange a partir de 1890. A verdade é que as suas actividades trouxeram-lhe uma vasta riqueza e uma ainda maior quantidade de invejas, inimigos e complicações!

Gerard Pott, comerciante, cônsul honorário do Reino da Holanda em Lourenço Marques a partir de 1887, com a idade de 29 anos, e cônsul-geral do Transvaal e do Estado Livre de Orange a partir de 1890.

Pott foi o comerciante mais influente e poderoso de Lourenço Marques no final do Séc. XIX. O que constituíu uma coisa importuna e irritante para os Ingleses e, em parte, para os Portugueses.

Dado ao seu estatuto como cônsul honorário da Holanda e também das beligerantes Repúblicas Boers, o Transvaal (ZAR) e o Estado Livre de Orange (OFS), devido à sua experiência como comerciante colonial para “Dutch East African Company” (D-EAC) e de outros interesses comerciais Holandeses e Alemães, era uma figura omnipresente na cidade.

Foi em Quelimane em 1870 que começou com uma posição na D-EAC, mas foi em Lourenço Marques com os seus empreendimentos pessoais, laboriosos mas muito lucrativos, que se tornou o mais rico da cidade e talvez de Moçambique. Além de gerir a D-EAC, geria o trabalho do “Banco Nacional da ZAR” em Moçambique, a “Linha Alemã de África Oriental” (DOAL), a “Netherlands-South Africa Railway Company” (NZASM), a “African Boating Co.”, a “Castle Line Co.”, a “Union Steamship Co.”, a “Empresa Africana Landing Company” e a “Estivador Oficial e Expedidor da ZAR”.

A carga que vinha da Europa via Lourenço era descarregada por esta última Empresa e carregada nos comboios do NZASM para Pretória. Em Pretória, os comboios de volta para Lourenço Marques eram carregados com carvão ou ouro e depois recarregados em navios. O jovem Gerard Pott conseguiu familiarizar-se com pessoas influentes que lhe valeram o cargo de presidente da Câmara de Comércio de Lourenço Marques em 1891, tinha então 33 anos.

Os Avenida Buildings, na Baixa de Lourenço Marques, nos anos 50.

O seu estatuto diplomático foi de uma importância vital para as Repúblicas Boers na aquisição e encaminhamento de grandes quantidades de alimentos, bens industriais e de armas antes da II Guerra Anglo-Boer (1899-1902).

Sendo Portugal e a Holanda neutros na guerra, Pott não teve espaço ou artimanha para a isenção necessária e, ao mesmo tempo, garantir o lucro dos seus negócios privados, prejudicando assim as relações antigas entre Portugal e a Grã-Bretanha. Passou frequentemente a ser apontado como o rei do tráfico de armas e munições e contrabando para o Transvaal antes e durante a guerra.

Em Novembro de 1900, as autoridades britânicas pressionaram fortemente as autoridades coloniais portuguesas para declararem Pott personna non grata, o que levou estas a revogaram o seu estatuto diplomático, obrigando-o a regressar à Holanda, em 15 de Novembro, sob a acusação de contrabando de guerra para as duas Repúblicas Boers do ZAR e OFS.

Foi condenado, com mais boatos do que factos, por falsa declaração de bens, multado, e de haver desafiado a neutralidade Portuguesa. Pott negou qualquer ajuda aos Boers fora da sua jurisdição mas o seu caso foi decidido por «convicção» e não poderia haver refutação. Se é certo que a insuficiência de factos não prova a sua inocência, é também absolutamente certo que a influência e autoridade britânicas instigou a punição.

Depois de um acordo, Gerard Pott voltou para Lourenço Marques na primavera de 1903. Regressou e foi recebido de volta à colônia como cidadão privado, despojado das suas funções diplomáticas.

Nessa altura sentia dificuldades financeiras que o forçariam a vender a sua mansão, que o Governo provincial adquiriu. A sua expulsão e ausência forçada de Moçambique impactou negativamente no seu património e negócios.

De notar que no ano anterior à sua saída, em 1899, Pott recebeu e acolheu o deposto Presidente Kruger quando este abandonou Pretória via Lourenço Marques para o exílio na Europa. Kruger foi então recebido, não na sua mansão, que estava quase pronta, mas na casa em que então vivia mesmo ao lado dos Avenida Buildings.

Gerard Pott faleceu, frustrado e supostamente odiando os portugueses, em Lourenço Marques, a 20 de Dezembro de 1927. Tinha 68 anos de idade.

A fachada a Nascente dos Avenida Buildings, na Avenida Aguiar, mais tarde Avenida Dom Luiz I, nos anos 20.

Matrimónios e descendência.

Gerard Pott teve seis mulheres, brancas e negras (com 17 filhos e descendência em vários pontos do mundo). Do matrimónio com Angelina da Conceição Moyasse Pott, senhora de raça africana da província de Gaza, teve um filho, Karel Monjardin Pott (20 de Agosto de 1904 – 16 de Dezembro de 1953), advogado e o mais renomado dos filhos em Moçambique. Foi o primeiro mestiço de formação universitária, representou Portugal nos Jogos Olímpicos de Paris (1924) com o seu colega Moçambicano, Gentil dos Santos. Foi uma das figuras principais do jornal “O Brado Africano”, reconhecido como um jornal importante no espírito da emancipação de Moçambique.

Esposas: Sara Vulgo Chinchingáne Pott, Angelina da Conceição Moyasse Pott, Chipeca Pott, Amélia da Conceição Aissa Pott, Joselina Pott e Augusta Sinesasse Pott.

Filhos: Sofia Pott Larsen, William Pott, Carlotta Pott, Ernest Pott, Karel Monjardin Pott, Hendrik Jan Robert Pott, João (Jan) Gerard Pott, Coryne Pott, Gerard Pott, Jan Pott, Gerard Pott, Hendrik Gerard Pott, Private Pott e Jeantine Pott.

Avenida Buildings.

Os Avenida Buildings, na esquina da Av D.Luis I com a Av da Republica, inícios de 60.

Foi da iniciativa de Gerard Pott a construção do gracioso corpo de edifícios interligados que ocupavam todo o quarteirão, na Baixa de Lourenço Marques, entre as esquinas da Avenida D. Luís I com a Avenida da República e com a Avenida Álvares Cabral, edifícios conhecidos por Prédio Pott.

Vila Jóia.

A Vila Jóia, residência de Gerard Pott em Lourenço Marques, circa 1895.

Gerard Pott era também proprietário dos terrenos situados junto ao Jardim Vasco da Gama onde mandou construir, em 1890, a então maior mansão em Lourenço Marques, a Vila Jóia.

Pott viveu com a sua família e pessoal doméstico nesta luxuosa “villa” de arquitectura colonial holandesa, que não passava despercebida no meio da vegetação exuberante do jardim público que a contorna e da arquitectura modernista ao seu redor.

Registos revelam que a manutenção anual era de cerca de 15.000 libras, o que forçou Pott a vender a sua luxuosa Vila Jóia cerca de 1915, para liquidar dívidas.

Museu Provincial.

Varanda da Vila Jóia como Museu Provincial, anos 20.

A Vila Jóia foi adquirida pelo Governo Provincial, que a adaptou a um museu meio natural, meio etnográfico, o Museu Provincial. Por volta de 1935, o museu foi transferido para o Museu Álvaro de Castro, na Polana.

Tribunal Administrativo em Lourenço Marques.

Tribunal Administrativo em Lourenço Marques (ex Vila Jóia) em 1974.

Após ficar vaga do museu, a Vila Jóia sofreu nova reconversão, desta vez para receber o Tribunal Administrativo de Lourenço Marques em 1937.

Fontes do texto: Geni, Terra Mãe Amada, tese de Shiko Boxman, University of Amsterdam, Delagoa Bay
Fontes das fotos: Delagoa Bay, HousesOfMaputo, Terra Mãe Amada


Comentários

2 comentários a “Gerard Pott”

  1. Avatar de Maria de Lourdes Martins de Carvalho
    Maria de Lourdes Martins de Carvalho

    Pena que depois do fogo que quasi a distruiu ser ocupada por sem abrigos, e por ladrões, não terem pensado em recuperar tão lindo edifício,que tanta beleza dava à baixa da cidade.

  2. Avatar de Cândida Teixeira, Lda.
    Cândida Teixeira, Lda.

    Fantástico , a história é a memória de um País.

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