Dana Michahelles

Dana Michahelles

Dana Michahelles não era muito conhecida pelo laurentino ou moçambicano comum. Muitos, enquanto viveram em Lourenço Marques, não se deram conta que Dana lhes desenhou a sua cidade em desenhos que hoje constituem memórias de elevadíssimo valor. E não desenhou apenas aspectos de Lourenço Marques, fora da capital encontrou – no Ibo, no Mossuril, na Ilha de Moçambique, para mencionar apenas alguns locais em Moçambique – os motivos que a fez desenhá-los para a posteridade.

Para escrevermos uma biografia de Dana Michahelles recorremos ao SACI – Studio Arts College International, em Florença, Itália. Em 2013 o SACI expôs alguns dos desenhos de Dana na Galeria SACI (Palazzo dei Cartelloni, Via Sant’Antonino, 11, 50123 Florença, Itália), sob a designação de Dana Michahelles: Desenhos da Tuscânia. A seguir pode ler a tradução em português dos dados biográficos de Dana que constam no SACI Blog.

Dana Michahelles quando ainda jovem.

Dana Michahelles (1933-2002) nasceu em Florença, Itália, e era filha de artistas. O seu pai era o pintor florentino RAM (Ruggero Michahelles), seu tio era o pintor futurista Thayaht e seu bisavô era Hyram Powers, o escultor neoclássico americano. Frequentou o Instituto de Belas Artes de Florença, mas aos 15 anos partiu para África onde permaneceu durante 27 anos, criando uma identidade singular como artista.

Depois de regressar a Florença e se restabelecer, podia ser encontrada, por exemplo, sentada num banquinho no meio do tráfego de pedestres da Ponte Vecchio, desenhando uma representação precisa, abrangendo mais de 9 metros, da antiga ponte vital ou na Via Calzaioli registando fachadas de lojas. A sua produção artística é variada, desde desenhos meticulosamente detalhados de arquitetura a bico de pena, retratos, plantas e animais exóticos, até rigorosas pinturas a óleo sobre tela.

O trabalho de Dana é relativamente desconhecido na sua cidade natal, e esta exposição representa uma retrospectiva selecionada dos seus melhores trabalhos, que podem ser considerados narrativas, paisagens urbanas e documentação visual que ilustram a vida tal como ela é vivida, nunca tendo perdido o seu espírito Florentino. Muita gente se lembra dos seus desenhos nas ruas com o bloco de papel e as canetas em Lourenço Marques (Moçambique), em Lisboa, na Cidade do Cabo e em Florença. Para todos, ela deixou a impressão de ser uma artista tranquila, mas muito pessoal e de grande talento.

Dana fazia os seus desenhos no meio das pessoas, cercada de ruídos, de vozes, de movimento, da própria VIDA. Colocou no papel a arquitetura que a impressionou, com uma linha decidida e forte para representar as partes pesadas e estruturais, ao mesmo tempo que conseguiu captar um mundo efémero em constante mutação e movimento, de pessoas — as quais ela esboçava levemente, dando a sensação de passagem momentânea e momentos fugazes, como se pode ver em muitas de suas obras.

Dana Michahelles a artista, desenho e pintura.

Dana deixou Florença ainda jovem para viver em Moçambique, onde permaneceu durante 27 anos. Em África, constituiu família e trabalhou extensivamente, nunca parando de pintar.

Fundamentalmente para o seu estilo de desenho, ela trabalhou como desenhista durante 10 anos no ateliê do famoso arquitecto português Amândio Alpoim Guedes (conhecido como Pancho Guedes). Foi uma época em que tudo ainda era feito à mão; a tecnologia e os instrumentos de hoje não existiam. Esta foi uma vantagem que lhe permitiu desenvolver um apurado sentido de proporção e perspectiva enquanto aperfeiçoava, ano após ano, uma forma particular de usar caneta e tinta, a sua própria especialização.

Ela acabou por regressar para sua amada Florença e continuou a desenhar e a pintar, fazendo exposições ocasionais.


Rui Knopfli, o poeta maior de Moçambique, dedicou-lhe este poema.

DANA

Pelo trajecto sangrento das acácias,
da Mafalala às areias da Polana,
ou à maré morta da Catembe;
do Ho Ling à Casa Elefante,
da Casa Viegas ao Prédio Pott;
da opulenta sombra do cajueiro
à nobre majestade do eucalipto,

ainda resiste, na memória, uma cidade.
Por tardes de longa canícula,
sentada em seu regaço, a menina
dos cabelos cor de cobre regista-lhe,
com paciente labor, na brancura
do A3, a minúcia do perfil
que esbatido aos poucos, lentamente,

no deserto da memória vai morrendo.
Dele, em tempo, só restará o sal
teimoso que, a algum verso,
há-de emprestar o travo amargo
e o que, no rigor afectuoso do seu traço,
da insanável ferida oculta,
é, obstinadamente, a visível cicatriz.


Segue-se uma retrospectiva de alguns dos desenhos que Dana Michahelles fez em Lourenço Marques e em Moçambique nos anos 60 e 70.

Os desenhos apresentados são miniaturas, por favor clicar num desenho para ver em tamanho maior.

Fontes: Dana Michahelles no Facebook, BigSlam, The Delagoa Bay World, HousesOfMaputo, SACI The Art Blog.


Comentários

Um comentário a “Dana Michahelles”

  1. Avatar de raquelalcobia
    raquelalcobia

    Que maravilha de apanhado dos seus desenhos! Se quiserem também posso enviar fotos dos nosssos 5 retratos feitos pela Dana em 1966, para a vossa colecção. raquelalcobia@yahoo.com

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