Conjunto Oliveira Muge

Conjunto Oliveira Muge

Uma noite de nostalgia com o Conjunto Oliveira Muge no café Progresso. Por JC Maia.

A minha singela homenagem a António Policarpo. (1946-2012, vocalista e viola-solo)

“A Mãe”, o maior sucesso do Conjunto Oliveira Muge, gravado na década de 60 do século XX, foi redescoberto e incluído na banda sonora do filme português “O Meu Querido Mês de Agosto”, do realizador Miguel Gomes. O filme foi exibido, este ano, em Cannes, tendo sido incluído na Quinzena dos Realizadores.

“A Mãe”, o maior sucesso do Conjunto Oliveira Muge, gravado na década de 60 do século XX.

A imprensa francesa especializada chegou mesmo a questionar de quem era aquela música. A explicação é simples; “Toca as pessoas, é muito bonita”, reconhece, orgulhoso, José Muge, fundador do grupo.

Cinquenta anos volvidos, o conjunto Oliveira Muge voltou a tocar “A Mãe” e outros dos seus velhos êxitos, na noite em que manifestou a sua gratidão à casa que o viu nascer para o mundo do espectáculo, apresentando-se ao vivo no café Progresso.

Na noite de 1 de Dezembro de 2008, que pode muito bem considerar-se histórica, participaram José Muge e António Policarpo, elementos ainda vivos do grupo, com o apoio de Áureo Neves e Rui Resende, e ainda com o apoio de um grupo de jovens vozes de Tarei e Arada (Fábio Silva, Óscar Leite, Hélder Ricardo, Kátia Moreira, Tiago Moreira e Hélder Moreira).

“Foram momentos muito felizes os que vivemos ao serviço da música, conjuntamente com os nossos amigos, fãs e admiradores daquela época e estamos certos que aqueles momentos vividos ficaram bem gravados no coração de todos nós”, justifica José Muge.

O Conjunto Oliveira Muge era inicialmente constituído por José Muge (piano), Joaquim Silva (baixo e vocalista), Alberto Capitão (acordeão), António Biscaia (bateria) e António Policarpo (viola e vocalista).

As suas primeiras actuações remontam aos longínquos anos de 1959/60, onde actuaram ao vivo em Ovar, no Café Progresso, Orfeão de Ovar, várias localidades do distrito de Aveiro, e nos estúdios da RTP/Porto, em dois programas em directo e no Rádio Clube Português (RCP/Norte).

José Muge resolveu ir até África, “porque o seu irmão (António Oliveira Muge, já falecido) estava lá sempre a chamá-lo e o Policarpo tinha o pai fora e também tinha espírito aventureiro”. E partiram para Vila Pery, em Moçambique.

As suas primeiras actuações remontam aos longínquos anos de 1959/60, onde actuaram ao vivo em Ovar, no Café Progresso e no Orfeão de Ovar.

“Partimos no paquete Infante D. Henrique, no dia 13 de Agosto de 1962, ao meio-dia. Andávamos a navegar e, ao fim de uma semana, ouvimos dizer que se alguém tocasse piano para se manifestar e nós fomos falar ao comissário de bordo. Mandaram-nos aparecer para verem o que tocávamos. Foi um êxito tão grande que, de repente, estávamos a cantar pelo barco todo”, recorda José Muge.

A fama correu célere. Quando chegaram a Lourenço Marques, elementos do Rádio Clube de Moçambique esperavam-nos para convidar-nos para um programa ao vivo no auditório dos seus estúdios, programa esse que teve um grande sucesso.

A fama correu célere. Quando chegaram a Lourenço Marques, elementos do Rádio Clube de Moçambique convidaram o grupo para um programa ao vivo no auditório dos seus estúdios.

Nessas terras de magia e feitiço, António Muge e mais tarde o seu irmão José Oliveira Muge, conjuntamente com António Policarpo Oliveira Costa e o Victor, um militar pertencente ao batalhão ali existente, formaram o grupo.

José Muge lembra-se que “em Outubro de 63 fizemos a primeira visita à Rodésia, actual Zimbabué, para actuar na TV local”. Os êxitos iam-se repetindo, agora já fora das nossas fronteiras, especialmente em Salisbúria, na Rodésia, onde todas as sextas-feiras iam aos estúdios da televisão local fazer o “Seven Three Oh Show”, em horário nobre.

Em Outubro de 63, o Conjunto Oliveira Muge fez a primeira visita à Rodésia, para actuar na TV local, no programa “Seven Three Oh Show”.

“Tivemos logo convites de mais hotéis, como o Parklane de cinco estrelas, para fazer actuações. O sucesso parecia imparável. Eles diziam-se fartos do inglês e adoravam o facto de cantarmos em português e italiano”.

O destino podia ter sido outro.

Começam a “chover” convites. Um deles foi um contrato para actuar durante um mês em Nairobi, no Quénia, num dos melhores hotéis da capital, o “New Stanley Hotel”. Ali também fizeram um programa de TV nos estúdios locais.

José Muge sorri quando se lembra desses tempos. “Tocávamos num nightclube onde apareciam muitos artistas consagrados, como os Shadows ou o Pierre Martinez”. Certo dia, uma rapariga abeirou-se dele e perguntou-lhe se conhecia a série “Uma Leoa chamada Elsa”. Ele disse que sim, que via muitas vezes. “Pois bem, eu sou Virginia Mckenna, a protagonista”. Foi um desfile constante de estrelas que lhes podia ter mudado o destino.

Num outro dia, “apareceu-nos uma senhora toda vestida de negro, filha de mãe portuguesa e pai grego, a pedir o Lisboa Antiga. Cantámos, ela agradeceu-me e apresentou-se como sendo casada com o embaixador norte-americano de Nairobi”. Isto para dizer, segundo José Muge, que “éramos talvez um pouco provincianos e só não tirámos partido desses contactos porque éramos muito ligados à nossa terra, família e amigos”. Mas tudo isso os enchia de orgulho “porque era o reconhecimento do nosso trabalho”.

O Conjunto Oliveira Muge manteve-se em Vila-Pery.

Numa outra ocasião, “um indivíduo perguntou-nos se queríamos ir para Los Angeles cantar”. Hoje, José Muge reconhece que podia ter sido o grande salto. “Mais uma vez recusamos”. Aliás, o grupo podia ter-se estabelecido na capital Lourenço Marques ou na África do Sul, mas preferiu sempre ficar em Vila Perry.

Sobre o seu maior sucesso de sempre, José Muge conta que o conjunto tocava em Moçambique aquilo que tocava em Portugal, “mas entretanto começou-se a valorizar os originais e quando gravámos um disco, o Policarpo apareceu, timidamente, com uma canção que escrevera à mãe. Segundo ele, aquilo não servia para nada”. José Muge disse-lhe: “Traz cá para nós ouvirmos. Claro que todos gostámos e gravámo-la logo”.

O disco tinha mais temas, mas “A Mãe” foi o que realmente tocou toda a gente. “Posso dizer que tive a noção de que ia ser um grande sucesso, sabendo o tempo que vivíamos e o quanto o povo português é sentimental e saudosista”.

“A Mãe” teve um impacto enorme e vendeu muitos e muitos discos e levou o grupo ao primeiro lugar do top de vendas em Moçambique, onde se manteve durante várias semanas. Foi das canções mais solicitadas pelos militares em Moçambique, no período da Guerra Colonial.

O conjunto manteve-se activo até cerca de 1974, reaparecendo em 1976, actuando durante vários anos no Restaurante Progresso na praia do Furadouro, em Ovar.

Em 1 de Dezembro de 2008, o Conjunto Oliveira Muge reuniu-se para assinalar os 50 anos da sua formação.

Este ano (2008), para assinalar os 50 anos da sua formação, o grupo voltou a tocar. “Como estamos todos na reforma e os mais velhos querem sempre dizer presente, lembramo-nos de mostrar aos mais novos e àqueles que gostam deste tipo de música, as canções dos anos 60, que foi maravilhosa, e hoje ainda nos dá prazer tocar”, justifica José Muge.

Actualmente, ele e Policarpo Costa vivem em Ovar, onde o bichinho da música ainda os atormenta. Por seu lado, José Muge nunca se desligou da música e já está a trabalhar nas músicas que enchem a cidade vareira por alturas dos Reis. Em Janeiro, vamos vê-lo a cantar louvores ao Menino Jesus pelas ruas de Ovar.

Canção do Conjunto Oliveira Muge.

Bodas de Ouro do Conjunto Oliveira Muge

1958: O Conjunto Oliveira Muge forma-se em Ovar;
1959: Primeiras actuações ao vivo no Café Progresso e Orfeão de Ovar;
1962: José Muge e Policarpo Costa partem para Moçambique;
1963: Na Rodésia (actual Zimbabué) são estrelas do “Seven Three Oh Show”, da TV local;
1964: Recebem o prémio de “O Melhor Conjunto de Gente Nova”, concedido pela imprensa moçambicana;
1966: Gravam “A Mãe” para a EMI/Parlophone da África do Sul;
1968: Regresso temporário a Ovar, onde actuam em bailes de Carnaval;
1974: Desmembrado, o grupo quase desaparece;
1976: Reaparece no Restaurante Progresso na praia do Furadouro;
2008: Regresso para assinalar os 50 anos da sua formação.

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