(Na foto, o Bairro da COOP em Lourenço Marques, circa 1971).
A Sociedade de Moçambique para o Fomento da Construção de Casas (COOP) foi fundada em 1951 pelo Dr. José Caetano Oliveira Nunes, que foi o seu dirigente máximo pelos menos até 1974.
A COOP foi construindo pequenos conjuntos de casas em várias partes da cidade, mas o seu objectivo era estabelecer um bairro autónomo. Conseguiu-o no chamado Bairro da COOP, um bairro urbano pensado para cerca de 8 mil pessoas, situado em torno do cruzamento das Avenidas Nossa Senhora de Fátima e Augusto Castilho.

O bairro assentou numa zona periférica da cidade que esteve desabitada até ao início dos anos 60 e que ficava na direcção Sul – Norte entre o dito “cimento” e o subúrbio e na direcção Leste – Oeste entre o bairro selecto da Sommerschield e o bairro popular da Malhangalene.
A parte sul do Bairro da COOP é dominada por 5 prédios de 10 andares ao longo da Avenida Nossa Senhora de Fátima (PH1 ao PH4), os primeiros a ser construídos, e 5 prédios de 12 andares ao longo da Avenida Augusto Castilho (PH5 ao PH9). Todos estes prédios foram projectados pelo arquitecto da COOP Jorge Gonçalves Valente e eram conhecidos por PH (Propriedade Horizontal).

Numa cooperativa todos os sócios contribuem para um objectivo comum. Como a COOP construía ela própria, procurava métodos mais económicos e não tinha como objectivo o lucro, em princípio os custos para os sócios eram menores do que se um empreiteiro resolvesse construir estes prédios.
Mas como o dinheiro das contribuições para a cooperativa não chegava para fazer casas logo para todos (as cooperativas não foram feitas para ricos que podem comprar o que quiserem directamente e não estariam interessados nestes bens), normalmente as cooperativas vão fazendo sorteios para distribuir as casas à medida que as conseguem construir.

Mas todos os cooperantes têm de continuar a contribuir até que chegue a vez de todos terem casa. Por isso estes prédios foram financiados pelos cooperantes (os que tiveram logo as casas e os que esperavam vir a ter as que fossem construídas no futuro) e pelos depósitos no Mealheiro Cooperativo (instituição bancária criada pela COOP em 1955) que tinham de ser repostos pelos pagamentos dos cooperantes ao longo do tempo.
Em 1971 a COOP anunciou (com anúncios na impressa) a construção planeada de mais 6 torres de 20 andares no lado poente da Avenida Augusto Castilho e quais eram as condições de pagamento.

Sabemos hoje que estes planos não se concretizaram. Ainda se juntou mais um prédio de 10 andares (PH9) aos quatro da Avenida Nossa Senhora de Fátima, colocando-o mesmo junto à praça. A população máxima planeada em 1974 para o Bairro, se todos os planos da altura fossem avante, era de cerca de 8 400 pessoas, mas depois aí tudo parou!

Em 1968 a COOP tinha cerca de 4 500 sócios efectivos, o que com mais uma parte dos seus empregados e depositantes no Mealheiro Cooparativo dava os 5 480 pretendentes a casa mencionados por Nikolai Brandes para 1968.
Em 1968 cerca de 2 500 pessoas viviam no Bairro da COOP, o que à média de 4 pessoas por casa, correspondia a 625 casas no Bairro. Se a COOP tivesse mais umas 175 casas no resto da cidade e se tivesse metade deste total de Lourenço Marques noutras cidades de Moçambique, teria no total 1 200 casas.

Quer dizer, em 1968 a COOP tinha falta de cerca de 4 300 casas! Os planos de desenvolvimento máximo da COOP, circa 1974 para este Bairro, eram de 8 400 pessoas, o que à mesma média de 4 pessoas por casa, corresponderia a cerca de 2 100 casas (1), que mesmo com outras em LM e no resto de Moçambique seria pouco para as 5 480 que já eram pretendidas em 1968!

Assim se pode imaginar que a COOP teria de construir muito mais do que tinha planeado em 1974 para responder aos seus membros de 1968. E mesmo que alguns desses tivessem recebido casas entretanto, a entrada de novos cooperantes a partir de 1968 deve ter sido maior do que as casas que foram atribuídas.

No anúncio de 1971 estão também explicadas as possibilidades de ter um desses apartamentos com uma entrada inicial e depois pagamentos periódicos até pagar o custo do apartamento. Mas não fala de sorteio (método confirmadamente usado pela COOP no início), pelo que dá ideia que a partir de certa altura a COOP deve ter decidido exigir entradas mais altas e seleccionar económicamente quem iria ter casa rápidamente ou quem continuaria à espera (estas 600 casas já estavam incluidas nas cerca de 2 100 máximas, referidas acima, como planeadas para este Bairro e que segundo parece não seriam suficientes para os que já eram cooperantes).

Esta modalidade de cooperação também se deve ter tornado possível, pois como diz Nikolai Brandes, a COOP a certa altura passou a obter financiamento bancário (para lá do seu Mealheiro Cooperativo) e podia assim complementar a contribuição dos sócios e avançar com o investimento nos prédios para os sócios mais robustos financeiramente.

(1) Nikolai Brandes diz que o Bairro tem 8 000 pessoas (2013), mas talvez tenha agora mais de 4 habitantes por casa e por isso não se sabe quantas casas tem/teve para se comparar com as cerca de 2 100 casas que se pode estimar terão estado previstas (ao estimar-se que haveria 4 pessoas por casa para as 8 400 pessoas máximas previstas em 1974).
Também se tem de ter em conta que se não foram feitas as 600 habitacões previstas em 1971, foi ainda feito mais um prédio depois de 1971, que acrescentou talvez umas 80 habitações às que havia antes.

Depois da independência de Moçambique, a COOP foi administrada pelo governo mas como entidade ainda autónoma. No entanto, a certo ponto parece que os títulos de propriedade antigos foram anulados, o sonho dos cooperantes transformou-se em pesadelo.
Fontes: Delagoa Bay, HousesOfMaputo (Nikolai Brandes, comunicação de 2013)


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